A adolescência é uma fase marcada por dúvidas, contradições, medos e muitos preconceitos. Sabemos muito mais sobre a infância do que sobre a adolescência.
É comum que pais grávidos busquem informações sobre os primeiros anos de vida do bebê. Mas, ao longo da infância, não seguem buscando informações sobre a adolescência e quando ela, finalmente chega, costuma pegar os pais de surpresa.
A psicóloga Debra Alexander no seu livro Criando e Amando a sua filha adolescente (mesmo que ela resista) faz uma analogia muito boa para nos ajudar a refletir sobre como o adolescente se sente e por que se comporta de determinadas maneiras.
Ela compara a adolescência a uma ponte. Uma daquelas pontes construídas de placas de madeira frouxamente ligadas no ar, balançando a cada passo dado, atravessando uma selva de perigos desconhecidos e rios caudalosos.
Alguns adolescentes conseguem atravessá-la sem maiores problemas, alguns caem e são resgatados das corredeiras e há aqueles que, ao cair, se perdem para sempre. Mas todas as crianças precisam atravessar essa ponte do seu jeito, com estilo e ritmos próprios.
É uma ponte extensa em que não se pode correr, instável e incerta. Muitos jovens se sentem, durante a travessia, confusos, solitários e constrangidos. E se puderem contar com nosso apoio e orientação, tanto melhor.
E como podemos ajudar nossos filhos a atravessar essa ponte em segurança? Em primeiro lugar, precisamos aceitar que nossos filhos não são mais crianças. Insistir em tratá-los como crianças é fonte de conflitos desnecessários.
Se antes você fazia tudo por eles, se tomava todas as decisões ( ou a maioria delas) com relação a roupas, alimentação e horários de brincar, dormir e estudar, agora a situação começa a inverter. Seus filhos agora precisam tomar decisões por eles mesmos e você precisa ajudá-los a fazer isso
Em segundo lugar, é preciso compreender todas as mudanças pelas quais os filhos estão passando. São muitas, profundas e difíceis. Acnes, sutiãs e absorventes substituem bonecas, patins e bichinhos de pelúcia. O corpo muda tão rápido que os filhos, muitas vezes não conseguem acompanhar internamente o ritmo do que acontece externamente.
De uma hora para a outra tudo parece estar diferente. Há perdas e expectativas diante do novo. Há entusiasmo misturado ao medo. Ansiedade e preocupação se misturam aos novos amores, romances e sonhos para o futuro. Compreender essas mudanças vai te ajudar a encarar com compaixão as oscilações de humor, o sarcasmo, as implicâncias, a aparente frieza e todos os outros comportamentos irritantes que costumam surgir junto com a adolescência.
Em terceiro lugar, é preciso entender e aceitar que seu papel na vida dos filhos mudou. Você está deixando de ser o foco central da vida deles e passando a dividir o espaço com outras figuras importantes.
Haverá momentos em que seu filho vai preferir ficar mais tempo com os amigos a ficar com você. À medida em que se afasta de você, seu filho vai se aproximar de outros adultos e vai admirá-los. Isso pode fazer você sentir que está perdendo o seu filho.
Mas isso não é verdade. O fato de estarem se relacionando com outas pessoas, não significa que não querem mais se relacionar com você. A importância dessas outras pessoas na vida deles aumentou, mas isso não significa que a sua importância diminuiu. Seu adolescente tem capacidade de manter vários relacionamentos ao mesmo tempo. Ele está adquirindo a capacidade de ser relacionar bem com muitas pessoas. É muito importante que você aceite dividir o palco com outras pessoas importantes para ele.
Em quarto lugar, estabeleça regras e limites claros. Seja consistente e firme na cobrança de sua aplicação. Agora é o momento de conceder autonomia sem descuidar da segurança. Respeitar a privacidade sem permitir que se isolem. Deixar ir sem abandonar.
Difícil? Quanto maior for o vínculo entre vocês, mais fácil será encontrar esse equilíbrio. Você fortalece o vínculo quando demonstra compreensão por tudo o que o filho está passando, quando respeita suas ideias, sentimentos e pontos de vista, quando ouve com atenção, quando estabelece regras e limites claros, adequados à idade de cada filho.
Nem sempre será fácil amar o seu adolescente. Durante a travessia haverá muitos momentos difíceis, mas haverá outros, repletos de descobertas incríveis e alegrias indescritíveis. Não se esqueça de que no final da ponte, haverá um adulto que você ajudou a inspirar para a próxima geração.
