A adolescência é uma fase marcada por dúvidas, contradições, medos e muitos preconceitos. Sabemos muito mais sobre a infância do que sobre a adolescência.
É comum que pais grávidos busquem informações sobre os primeiros anos de vida do bebê. Mas, ao longo da infância, não seguem buscando informações sobre a adolescência e quando ela, finalmente chega, costuma pegar os pais de surpresa.
Alguns estudiosos do desenvolvimento humano definem essa fase como uma simples transição da infância para a idade adulta. Outros a definem em termos de crescimento, como um período de maior crescimento muscular e nervoso.
A psicanalista Françoise Dolto, no seu livro A causa dos adolescentes, traz uma definição que eu adoro. Ela considera a adolescência como uma fase de mutação, uma espécie de segundo nascimento. E que é tão essencial para o adolescente quanto o nascimento é para o recém-nascido.
O nascimento é uma mutação que permite a passagem do feto à criança de peito. Aqui fora, ela terá que se adaptar a um mundo barulhento e iluminado. Terá que aprender a respirar sozinha, se alimentar, perceber suas necessidades e brigar por elas.
O adolescente, por sua vez, vai abandonar o mundo da infância. Um mundo onde é protegido, não se preocupa com o futuro, não precisa tomar decisões importantes. Nesse mundo ele costuma ser o centro das atenções, é bonitinho, engraçadinho, fofinho, risonho, despreocupado, carinhoso, leve.
O adolescente vai agora, pouco a pouco se afastar desse mundo de inocência e fantasia para ingressar no mundo das responsabilidades adultas. Os adultos ao seu redor vão precisar amá-lo, protegê-lo e, muito importante, conceder a autonomia de que ele necessita para aprender a navegar nesse mundo novo e assustador que se aproxima cada vez mais rápido.
Se é verdade que não devemos nos descuidar, deixá-los à própria sorte, também não devemos superproteger, sufocar, cotar-lhes as asas, pois eles precisam trilhar o próprio caminho.

O adolescente é tão frágil quanto o bebê ao nascer. Ele é extremamente sensível ao olhar e às palavras das pessoas ao redor deles. Quanto mais importante for essa pessoa para o adolescente, mais sensível ele será a tudo o que essa pessoa fizer ou disse.
Todas as pessoas que cercam os jovens, não apenas os pais, mas os professores, parentes próximos, treinadores, vizinhos, todos exercem um papel muito importante na sua educação durante esse período. Tudo o que fazem e falam pode favorecer o desenvolvimento e a confiança em si e a coragem de superar suas fraquezas ou, ao contrário, podem levar o jovem ao desânimo e à depressão.
Nesse momento de adaptação em que se encontra vulnerável, com medo, ansioso, inseguro. Nesse momento de fragilidade extrema, os adolescentes tendem a ficar na defensiva, a achar que todo mundo está contra eles, que há um complô de todos os adultos para impedi-lo de crescer e ser, finalmente livre para fazer tudo o que quer e que muitas vezes não pode.
É importante que esse jovem esteja cercado por pessoas que confiam nele que enxergam o que há de melhor nele porque muitas vezes ele não vai conseguir enxergar. Ele vai olhar para ele e vai ver um fracassado, uma desajeitada, um ser esquisito, que erra muito, que é feia, etc….
Esse jovem precisa de bons exemplos, pessoas do bem, pessoas felizes que mostrem pra ele que viver vale a pena. Que ser adulto não é tão ruim assim, não é tão difícil assim que vai dar tudo certo, que ele consegue.
Essa é uma idade frágil, mas também maravilhosa. Da mesma forma que o jovem reage ao que é negativo, igualmente ele reage a tudo o que é feito de positivo por ele. O que acontece é que às vezes eles não demonstram isso imediatamente.
Isso pode ser muito frustrante. A gente pode ter a sensação de que o que fala entra num ouvido e sai pelo outro: “Eu crio regras, imponho limites, mas nada adianta, eu falo e não adianta, nada do que eu faço adianta, não sei mais o que fazer…”
E o que eu posso te dizer nessa hora? Eu vou reproduzir o que Françoise Dolto disse logo no início, no primeiro capítulo do livro: “Eu só posso estimular os adultos que perseverem. Digo e repito a todos que ensinam e se veem desanimados com os jovens, que procurem valorizá-los; continuem, mesmo que o jovem pareça zombar de você. Quando eles são vários, muitas vezes zombam do mais velho e, quando estão a sós, essa pessoa é para eles alguém muito importante. Mas é preciso suportar ser vaiado, tendo essa percepção: sim, sou vaiado porque sou um adulto, mas o que lhes digo os ajuda e lhes dá apoio”.
Faz sentido para você?
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